quinta-feira, 28 de agosto de 2014


Por JORGE BANDEIRA 
Sobre a Obra ESPETÁCULO - INSTALAÇÃO CHICO O CORPO EM CORES E SONS.

Tudo começou naquela segunda vez com a chegada da mulher de cabelos vermelhos, esperando em vão por um “boa noite, senhor?”. Uma faceta de Chico Buarque já estava ali antes de pulsar na casa número 3 da Travessa B. Coisas do Chico. Logo em seguida escuto com atenção ao relato sensível de meu amigo José Batista sobre o encontro do ninho do beija-flor. Lindo isso. O aparelho de som já tocava as músicas de espera. Odacy e seu parceiro de cena de Ii Ocre também chegam. A Francis pensa até que perdeu a chave. Michelle Andrews me abraça calorosamente. Adoro o abraço de Michelle. A gente conspira para ser feliz. Isso é muito bom. Eu posso nem concordar com tudo que ela pensa, mas que a tenho em consideração pelo fazer e ousar. Isso basta. Transformar uma casa numa usina de arte. Isso para mim já basta. Isso é estar na cena. Isso é fazer a cena viver. É ajudar a cena. Alerto, aqui, que escrevo sobre mim mesmo, e estas impressões são irrefutavelmente intransferíveis. Talvez alguns se sensibilizem. Talvez. Se não, não. A Casa está lá, pintada por fora e batizada de Chico Buarque por dentro. Ali acontece a música de Chico ao vivo e a cores, em movimentos e coreografias com os pés no contemporâneo. Eu me pergunto, relembrando o antigo aforismo: Nós é que fazemos a casa ou é a casa que constrói a gente? Seguramente a segunda assertiva é a verdadeira aqui. Esta é a casa buarqueana, feita a partir da visão poética em forma de dança de Francis Baiardi e por sua Contem Dança Cia. Eis a obra Chico: o corpo em cores e sons e suas potencialidades. Sua força motriz de dinâmicas onde até a aparente inércia dos corpos transformam o nosso interior como um telhado de casa caiado. As mulheres de Chico estão habitando a Casa, junto estão seus temperamentos, suas relações e suas vivências, amores, paixões, decepções, as ligações perigosas aos olhos da sociedade moralmente falsa e conservadora, seus cotidianos e seus limites. O Ambiente interno 1 é a sala com a TV fora de sintonia, Poltergeist de Chico, com suas ligações poéticas no chão e os filamentos que interligam casa e as dependências desta casa cheias de poesia e música. A redundância aqui também serve para comunicar que as dependências da casa estão ligadas pelos veios da dependência, suas cores vibram e pulsam em nossas visões enquanto estas mulheres transitam nesta Casa inconsútil. A Cozinha é o Ambiente 2, onde a mesa está feito esta gaiola onde a mulher habita um vale da culinária dando prazer gustativo ao paladar de seu homem, uma prisão com cheiro de cebola. O corredor se apresenta, aproximando-nos de outros 2 ambientes, um deles o quarto carmesim onde o amor se arvora pelo mesmo fruto de Eva. O local onde os sapatos mórbidos são retirados e colocados por esta mulher indecisa pelas convicções do amor, este amor que em Chico da Contém nunca se completa, interrompe-se costumeiramente no cotidiano desta Casa. As pausas em cada música são achados bem elaborados, assim como a iluminação, tudo possui uma forma orgânica pelo trabalho de José Batista e sua paisagem visual, seus vasos comunicantes que nos levam a percorrer os cômodos da Casa de Chico, esta casa em constante construção. O político de Chico se apaga aqui, entramos no plano poético onde as mulheres de Chico imperam em seu matriarcado limitado pelo vigor de suas paixões. A iluminação contempla o chão, a lateralidade o teto desta Casa, num curioso jogo de transferência de sensações cromáticas concebidas aqui por Luis Alberto. As músicas, selecionadas por Fabíola Bessa e Naty Veiga, formam um labirinto com saída certa, nos colocam em direções exatas de cada plano e sequencia coreográfica. A pele está muito perto nas transparências deste figurino, pensado por Francis Baiardi, ela escorre pelas vestes de ninfas das intérpretes colaboradoras Alessany Negreiros, Amanda Pinto, Ana Carolina Souza, Fabíola Bessa e Huana Viana, todas executando com esmero e consciência de movimentos, dando personalidade a cada faceta destas mulheres de Chico. As estações do amor são aqui quadros e quartos que oscilam entre silêncios e espasmos. Tudo comunica. As contorções corporais vibram também dentro de nós, o corpo é testemunha do que faz o coração. A sensualidade entra em cena, junto ao gozo e ao prazer, mas aqui se percebe que estamos falando do efêmero, dos sentimentos que passam de forma ávida, vertiginosa. O tempo de um gozo. Coito Buarque. A linda frase que se escuta é a síntese desta obra: Meu corpo é como sua Casa! As vozes deste cotidiano em coros sonantes e dissonantes, vozes em ecos intermitentes, oriundos do sofá dos amores perdidos. Vozes que se arrastam e nos puxam aos cômodos da Casa através dos vasos comunicantes, onde os corpos estão executando movimentos em níveis diferenciados, dos planos alto ao baixo, e o público faz seu trânsito pela casa, costurando caminhos que vão se abrindo, que avançam e recuam, perfazendo caminhos agora já familiares, pois feitos de nossos rastros de vida. Tentar por ordem na casa, arrumar uma casa que pulsa na batida de um coração, esta é tarefa difícil aos que amam. Amor é desordem! A transferência deste sentimento é feito neste Chico de forma sensorial total, onde até o olfato nos denuncia que o choro forçado pode ser uma dissimulação na vida de uma mulher que está prisioneira de sua cozinha imaginária. A faca corta as camadas da vida (da cebola), numa receita amarga para alguns, mas necessárias para outros. As coisas não podem parar, elas vivem como janelas que se abrem para arejar uma casa. No corredor das ninfas até o samba de Chico tem vez, o corredor de Carolina e Bárbara, que os olhos fechados das mulheres são alegorias deste sentir o amor e as paixões, a austeridade de suas ações, suas entregas a alegria, ao vinho, este desregramento de seus corações. A sequência de Tatuagem e do amor de Lesbos é algo muito etéreo, é como se o calor da cama carmesim nos contaminasse o corpo, onde o respirar de um gozo estivesse perto de eclodir ao nosso lado, em nossa frente, em nosso interior. Uma cena muito bela mesmo. Próximo do final da jornada nesta Casa, a emblemática cena da mulher nua e desamparada no banheiro, como se fosse uma inquilina da Casa do amor que foi despejada por não pagar o preço alto por ter amada tanto. O gotejar da água denunciava desde o principio a solicitude. O preço por habitar esta Casa de Chico, algumas vezes, é a necessária solidão. *Jorge Bandeira é Patafísico. Pai da Carolina do Chico e do Gonzagão. Manaus, 25 de agosto de 2014.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

APRESENTAÇÃO DA OBRA "QUASE INVISÍVEL"
QUANDO? DIAS 11 E 25 DE AGOSTO
ONDE? SINTTEL - AM . RUA ALEXANDRE AMORIM, Nº392. BAIRRO: APARECIDA.
QUANTO? R$ 10,00 VALOR ÚNICO

Este espetáculo faz parte da campanha DE GRAÇA NÃO TEM GRAÇA!!!!

"Quase Invisível” é um espetáculo de dança contemporânea que dá continuidade à investigação da pesquisadora e intérprete da dança Francis Baiardi sobre o compreender o mundo no qual estamos inseridos, construindo, pensando, refletindo o papel do homem na sociedade, na busca de exprimir suas inquietações com a linguagem corporal, e mostrando assuntos e estudos que estão relacionados a CORPOREIDADE como foco do seu trabalho de criação.
De forma intensa e objetiva, diante do paradoxo do quase visível, reflete-se sobre o lugar da criança, a doce infância, o doce de ser doce-metáfora de todas as coisas, e também o outro lado, a realidade crua de meninos e meninas de rua, que na rua se comportam como sobreviventes, que buscam superação na violência, no atraso, na discriminação das supostas e reais situações de agressão do cotidiano urbano.
A obra "Quase invisível" foi contemplado no Prêmio Dança da Cidade 1013.
Direção: Francis Baiardi Guarani Kaiowá
Assistente coreográfico: Ale Negreiros
Interpretes: Adriano Felipe Diogo Diniz Felipe Hidalgo Jonathan Tavares Marcos Felipe Talita Torres
Produção: Ana Carolina Souza
Registro audiovisual: Cléia Alves
Paisagem sonora: DJ Nat Veigas
Iluminação: Amanda Pinto
Apoio: Contem Dança Cia, Colégio Dom Bosco, ESAT/UEA e SINTTEL-AM


A Contem Dança Cia inicia neste sábado dia 09 de agosto a temporada do do Espetáculo - Instalação "CHICO: O CORPO EM CORES E SONS.
A obra será apresentada nos sábados do mês de agosto.
Serão DUAS SESSÕES 19H E AS 21H.
INGRESSO: R$ 10,00 VALOR ÚNICO
NÃO PERCA!!!!

Esta Obra faz parte da campanha De GRAÇA NÃO TEM GRAÇA!!!!

No ano em que o Brasil celebra os 70 anos de idade e meio século de carreira do escritor e compositor Chico Buarque de Hollanda, a companhia amazonense Contém Dança dedica seu novo trabalho à obra desse artista, que entende como poucos a alma feminina.

A Obra tem um formato de Dança-Instalação, onde as intérpretes vão ocupar os diversos cômodos do Coletivo, como quarto, sala, cozinha e banheiro.

FICHA TÉCNICA
“Chico: o corpo em cores e sons”
Realização: Contém Dança Cia.
Direção artística: Francis Baiardi
Concepção e coreografia: Fabíola Bessa
Intérpretes: Ana Carolina Souza, Alessany Negreiros, Amanda Pinto, Huana Viana e Fabíola Bessa
Paisagem sonora: DJ Naty Veiga
Paisagem visual: José Batista
Registro audiovisual: Cleia Alves
Figurino: Francis Baiardi
Concepção de iluminação: Luis Alberto
Apoio: Colégio Salesiano Dom Bosco e Coletivo Difusão
Colaboradores: Leandro Figueiredo e Francisco Mendes